"(...) o som da
aura é a vibração sonora da alma de cada um, refletida pela sua fala, que faz a
ligação entre mente e corpo. (...)” Hermeto Pascoal
Às vezes penso que os sentidos
foram feitos para o engano. Servem à ilusão da vida concreta, material, ao
mundo aparente. Uma vez fiz um exercício de técnica teatral que aguçou minha
percepção nesse sentido. O professor pediu que cada um dos alunos imaginasse
uma música e a ouvisse mentalmente. Caminharíamos movimentando o corpo ao som
da melodia que ouvíamos dentro de nós. Num momento seguinte, buscaríamos
caminhar ao lado daqueles que estivessem com movimentos parecidos com os
nossos. E, para minha surpresa, uni-me a colegas que aparentemente eram muito
diferentes de mim. Fomos atraídos pela vibração. Algo sutil, que ia além das
aparências, mas que me parecera mais essencial do que qualquer possível divergência
externa.
Aos poucos fui compreendo as
dificuldades que sempre tive desde a infância. Os conflitos que vivia entre o
que eu via e ouvia e o que sentia. No fundo de mim, nunca acreditei muito nos
meus olhos, nas palavras que escutava, nos gestos condicionados, nos disfarces.
Cria em outra coisa, da qual não sabia o nome, e que só aos poucos pude nomear:
a vibração sonora da alma!
Quando conheci Claudinha, os
sentidos apontaram nossas diferenças: ela extrovertida, alegre, colorida, cheia
de vida; eu introvertida, melancólica, amante das cores que preservavam a alma
da exposição. Aquário e Escorpião, ar e água, pra dentro e para fora: éramos nós
tão diferentes uma da outra. Para minha surpresa, o tempo e a convivência foram
sincronizando nossos passos, foram aguçando nossas percepções para aspectos
nossos essenciais que as aparências não deixavam ver. Aprendi muito com ela.
Descobri que vivíamos dores semelhantes, embora externamente nossas expressões
fossem diferentes. Entendi que ambas tínhamos uma sensibilidade extremamente
aguçada e que lutávamos para ver a beleza da vida apesar de.
Meu primeiro “encontro” com ela
se deu através da escuta. Não é fácil “escutar” o outro quando ainda nem
aprendemos a escutar a nós mesmos. Aprendi da vida escutando. As histórias
alheias sempre me interessaram. Sempre escutei mais do que falei. E descobri
que não é fácil ser escutada. Claudinha escuta profundamente. As histórias
alheias – dores, alegrias, descobertas, prazeres – interessavam à sua alma,
profundamente, como interessavam a mim. E outras descobertas vieram a partir
desse primeiro “encontro”. Aprendi a rir de mim com ela. A chorar. A colorir as
paisagens sombrias e a acreditar que é possível ser feliz mesmo quando a vida
impõe desafios difíceis.
Ano passado, Claudinha viveu um
momento que já me era conhecido: doença e perda do pai. Passei por isso muitos
anos atrás. Sabia exatamente como aquela alma sensível estava processando tudo.
A morte nos deixa sem palavras. Não saberia o que dizer a ela no momento em que
dava o último adeus ao pai. Passei na floricultura, escolhi algumas rosas
brancas e, no meio delas, coloquei uma flor lilás, outra afinidade entre nossas
almas. Não haveria palavras para aquele momento. As flores haveriam de falar o
que eu não sabia. Palavras limitam. Entreguei as flores a ela, que lá estava
sofrida e cheia de fé. Exausta e consciente. Inteira, como ela é. As flores
foram distribuídas, por ela, entre seus familiares. Quando viu a flor lilás,
olhou-me nos olhos e esboçou um sorriso cúmplice. Nós já nos entendíamos para
além da aparências, então.
Ao violão, um homem tocou uma
canção de amor e todos acompanharam cantando. Depois, o mesmo homem tocou “O
que é, o que é”, de Gonzaguinha, já um hino consagrado de amor à vida. E lá
estava Claudinha entoando o refrão com a convicção de quem sabe que a morte não
existe e de que a vida sempre vale a pena: “É bonita...é bonita e é bonita!”.
Claudinha é uma pessoa muito bonita. Como a vida. E, mais do que nunca, entendi o que nos
colocou lado a lado num momento difícil de nossa caminhada: a vibração sonora
da alma!
Parabéns, Fênix, querida. Ter
conhecido você foi essencial na minha caminhada terapêutica e de vida.
10 comentários:
Eu não resisti, encontrei-me no seu texto, principalmente em: Aos poucos fui compreendo as dificuldades que sempre tive desde a infância. Os conflitos que vivia entre o que eu via e ouvia e o que sentia.
Obrigada por partilhar nossas vibrações! beijos no coração!
desculpa fiz o comentario a este post no de baixo das asas.
beijos
o que faz o encanto da vida são esses encontros,
beijos
escutar
e
auscultar
apreender o bom da vida
Olá amiga, já de volta em plenitude convívio blogal!
Essa de nosso ego e íntimo é de boa, só temos que colocarmos em prática.
Abraço
Taninha, não precisamos sair daqui com a lição feita, mas é fundamental que se rabisque idéias, sutilezas, cheiros, sonhos, sorrisos, lágrimas, e tanto mais. Cada pedaço de tentativa é uma vida inteira, e vida é beleza, até quando feia, até quando erro, sempre a nos proporcionar encontros e surpresas
A humanidade se morre matando por respostas, quando basta abrir as mãos e tirar delas as sementes do amor e da compaixão para escutarmos o som da vibração perfeita.
Depois desse texto, vc ficou ainda mais bela.
bj grande
Belíssimo...
Taninha, és bonita, bonita e bonita.
Beijo carinhoso!
Lindo esse "encontro", Tânia! Texto belíssimo!
Abraços
como eu disse-lhe, um dia, taninha: alguns irmãos nascem, estranhamente, no ventre de uma outra mãe.
beijo beijo beijo.
r.
Fui trazido pela minha amiga bbrian, deixo endereço com abordagem criativa dela:
http://www.sobresites.com/poesia/forum/viewtopic.php?p=40927#40927
Limito-me a deixar parabéns!
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