24 de janeiro de 2013

Facebook: de terapeuta a poeta







As redes sociais parecem vitrines que a gente olha rapidamente, passando sobre rodas. Às vezes nem dá tempo de fixar uma imagem, um texto, um pensamento, porque vêm outros e roubam a nossa atenção. Tive dificuldades no início, e demorei bastante em aderir, porque gosto de ruminar e, ao mesmo tempo, tenho uma curiosidade enorme de ver o que está por vir. Algo que talvez a astrologia explique, mistura de Escorpião com Áries, aprofundamento versus velocidade. Ciente dos aspectos mais importantes do meu mapa natal, um amigo me disse certa vez: “Normal não podia ser!”. Ainda bem que eu já tinha me curado do anseio de ser normal e não me senti ofendida. Mas confesso que participar das redes sociais é um grande desafio.

Entrei e saí do facebook duas vezes. A gente vai amadurecendo com isso também. Na primeira vez, aceitava convites de quase todos e em muitas ocasiões me vi em maus lençóis. Entusiasmava-me ouvir das pessoas sobre reencontros com antigos colegas de escola, gente que conheciam do passado e com a qual retomavam o convívio. Mas tinha medo. Sempre mudei muito, fui muitas, até começar uma caminhada de autoconhecimento mais sólida, mais formal. Bom, a bem da verdade continuo mudando muito ainda, ou não aguentaria conviver comigo mesma. Entretanto, levei muito susto com os reencontros, até aprender que nunca somos os mesmos no dia seguinte e que, uma aparente pequena mudança, pode fazer diferença.

Saí do facebook certa de que não voltaria na segunda vez. Estava confusa. As redes sociais são, sem dúvida, escolas onde aprendemos muito sobre o exercício da democracia, a convivência com as diferenças, em todos os sentidos. Bacana, não? Nem sempre.   A colega de faculdade que você reencontra faz a maior festa no início. Depois de uma breve e empolgada conversa, você descobre que suas vidas tomaram rumos bastante diferentes. “Bobagem”, a gente pensa inicialmente. “Vamos ter muito o que trocar”.

 – Não, eu deixei o jornalismo!
– Verdade?
– Sim, no fundo foi um equívoco. Talvez uma experiência pela qual eu precisasse passar – digo , tentando apresentar a minha alma de terapeuta.
No meio da conversa, uma palavra começa a revelar que aquela pessoa com quem você está conversando não é a mesma que você idealizou durante anos de ausência.  “Tudo bem” – digo a mim mesma, respirando, pensando na oportunidade de conhecer outras realidades. Mas não é tão fácil assim, devo confessar, sem esquecer, contudo, que as pessoas não se mostram tão facilmente. Rememoro as teorias, lembro das máscaras, das sombras, do self...ah, o self! Impossível pensar no self sem se cobrar tolerância. Aos poucos redescobriria afinidades entre eu e aqueles com quem estava me reencontrando depois de muitos anos. “Esse será um exercício profissional maravilhoso!” , exclamei, tentando me animar.

É natural que agreguemos no nosso rol de “amigos” pessoas que tenham interesses semelhantes aos nossos, lógico. Ainda que meus interesses sejam tantos, precisavam estar na minha lista pessoas da área terapêutica e poetas e/ou amantes da poesia. Não necessariamente nessa ordem, que minha ordem de prioridades varia. Mas é certo que estariam lá. E, além do mais, seria interessante também ter pessoas com outros interesses, outras experiências. Ham? Como assim? A sua quase íntima colega de infância não gostava de poesia e usava termos pejorativos para referir-se aos psicólogos e terapeutas de uma forma geral? Ah, mas não era comigo que ela falava. Eu não precisava interagir e esperaria um interesse em comum, haveria de ter; afinal, eu tinha poucos meses na rede. A roupa de Ivete Sangalo e a voz horrorosa de Cláudia Leite? Tudo bem: li, mas podia fingir que não. As pernas da menina do BBB e as fotos sem maquiagem das atrizes famosas? Tá, tá, eu sou mesmo alienada e não sei de qual sucesso da música baiana estão elas falando.

Não, mas não adianta fazer de conta. Saí do face depois de constatar que não sabia ter tantos “amigos” numa rede social, assumi que sempre tive uma natureza muito introvertida, no sentido comum e usual da palavra, e que não devia mesmo haver nada de errado com o face, mas comigo. “Face nunca mais. Juro, juro que sobrevivo sem tudo isso, que posso tomar conhecimento das coisas por outras vias”. Lembrei com nostalgia dos envelopes chegando pelos correios, do tempo em que não tinha celular e que não que rastreada e nem encontrada tão facilmente. Quando vi, numa gravura, a imagem de um pombo-correio e a alma saltitou de alegria, nem me lembrei do álibi da poesia, que nos permite ir e vir do passado mais remoto ao futuro duvidável: “Vou embora”! E fui. Pra sempre.

Voltei. Mais madura. Mais experiente. Recusando convites sem me sentir mal-educada. Selecionando os “amigos” cuja linguagem estivesse mais afinada com a minha. Mais consciente de que ''a convivência nasce do diálogo que celebra nossas diferenças'' (frase que compartilhei hoje no face, do Dalai Lama (talvez, porque a formação em jornalismo serviu para eu me lembrar, às vezes, de conferir as fontes). Agregando terapeutas e poetas, que, afinal, não eram tão diferentes assim. A paz voltara a reinar dentro de mim, finalmente. Tudo estava bem, as diferenças continuariam existindo, apesar das afinidades, as percepções variariam de pessoa para pessoa, como era mesmo natural, e também não poderia descartar a possibilidade de um ou outro conflito, algo que faz parte do aprendizado humano.

Tudo bem, então. Tudo bem??? Estava, enquanto as divergências estavam em meu entorno, enquanto um outro ou alguns outros divergiam de mim. Relendo, um dia, algumas postagens, empaquei numa opinião, numa reflexão com a qual discordei quase que radicalmente, não fosse eu observar a tempo que era.. minha mesmo! Era o meu Eu lírico esbravejando contra teorias que assimilei no percurso terapêutico, rosnando feito um cão doido contra as verdades que eu havia fechado nos conhecimentos racionais que aprisionavam minha alma e minha experiência de vida. E agora? O que faria? Sair novamente? Melhor era dormir e esperar o dia seguinte. Gosto de analisar meus sonhos. Certamente acordaria harmonizada entre os vários eus que pareciam fragmentar-me.

No dia seguinte, abri o facebook calmamente e não acreditei:
 – O que está acontecendo, Tânia Contreiras?
Sim, era o facebook com a sua nova versão terapêutica.
Não, não corri dessa vez. Tenho certeza de que hora dessas ele vai fazer um poema com quatro versos e nos tornaremos, enfim, grandes amigos.  

10 comentários:

Luiza Maciel Nogueira disse...

Tania, linda o facebook é mesmo essa grande diversidade de tudo tem um pouco. Bobagens, artes, poesia - é preciso focar o olhar e selecionar o melhor de cada um :)

grande beijo

Primeira Pessoa disse...

taninha,
eu saí do Facebook, mas vou voltar muito em breve.
estou, como dizemos em minas, "pegando embalo" pra subir aquele morro.
A gente tem que aprender a beber veneno e usá-lo como fortificante.

voltarei mais cético e menos ingênuo. tenho certeza de que, desta vez, eu possuirei o Face, mas ele não me possuirá.

ou algo parecido.

beijoca, maninha.

r.

Ira Buscacio disse...

Taninha, me achei entre essas linhas, tanto, como se fosse espelho. anda é bem difícil, pra mim, essa administração virtual, pq me alimento de olhos, mas acho que aos trancos e barrancos vou arrancando o que de melhor o FB pode oferecer. O grande lance é dominar a fera, exatamente, como O Roberto comentou. Na verdade, o Fb, eu penso que favorece ao blog, no que diz respeito ao humano, pois podemos estreitar nossas amizade poéticas, enfim, acho que podemos sentir os poetas mais humanos.
estou com saudade da sua presença no beco, do seu carinho, mas tb ando tão sem tempo com essa história de férias da moçadinha, ainda bem que estamos próximos do fim das férias.
um beijo enorme e meu carinho

Sueli Maia (Mai) disse...

Que beleza seu texto, Tania. (no facebook talvez não fosse lido. Então, neste sentido, os blogs são mais generosos) Expressando sua experiência, você externou o que muitos sentem. Ainda não sabemos ao certo o que ou onde as redes sociais nos levarão. Adorei ler você e, por tabela, aí tem muito de mim também.
Bj

Cris de Souza disse...

O Face vai do luxo ao lixo em questão de segundos. Suspeito que se algum dia ele der uma de poeta, capaz de eu me passar por terapeuta...

Beijo, Violeta!

cirandeira disse...

Tua reflexão sobre o FB está muito boa, Tânia, e entre os "prós e contras", ainda fico com os "contras". Sou tão cética :)

beijoss

Unknown disse...

ao face eu vou: não voo



beijo

Unknown disse...

facebook: confesso que nunca participei diretamente nessa rede maior do que o [nosso] próprio mundo. sempre tive receio de um encontro tão global, tão abrangente, que pode vir a aproximar as pessoas sem um propósito comum. mesmo os blogues que, pelas temáticas-matriz, tendem a aproximar mais genuinamente as pessoas criando linhas de afinidade comuns acabam por trazer amargos de boca... oh, se é verdade. ainda assim, e mesmo à distância da não experiência, consigo entender as inquietações aqui partilhadas - algumas das quais que vou vivenciando mesmo sem facebook.

beijo grande!

Unknown disse...

facebook: confesso que nunca participei diretamente nessa rede maior do que o [nosso] próprio mundo. sempre tive receio de um encontro tão global, tão abrangente, que pode vir a aproximar as pessoas sem um propósito comum. mesmo os blogues que, pelas temáticas-matriz, tendem a aproximar mais genuinamente as pessoas criando linhas de afinidade comuns acabam por trazer amargos de boca... oh, se é verdade. ainda assim, e mesmo à distância da não experiência, consigo entender as inquietações aqui partilhadas - algumas das quais que vou vivenciando mesmo sem facebook.

beijo grande!

LauraAlberto disse...

o face...

é preciso saber filtrar

triagem feita, no final acaba por ser bom o que lá se descobre

beijinho