As redes sociais parecem vitrines
que a gente olha rapidamente, passando sobre rodas. Às vezes nem dá tempo de
fixar uma imagem, um texto, um pensamento, porque vêm outros e roubam a nossa
atenção. Tive dificuldades no início, e demorei bastante em aderir, porque
gosto de ruminar e, ao mesmo tempo, tenho uma curiosidade enorme de ver o que
está por vir. Algo que talvez a astrologia explique, mistura de Escorpião com Áries,
aprofundamento versus velocidade.
Ciente dos aspectos mais importantes do meu mapa natal, um amigo me disse certa
vez: “Normal não podia ser!”. Ainda bem que eu já tinha me curado do anseio de
ser normal e não me senti ofendida. Mas confesso que participar das redes
sociais é um grande desafio.
Entrei e saí do facebook duas
vezes. A gente vai amadurecendo com isso também. Na primeira vez, aceitava
convites de quase todos e em muitas ocasiões me vi em maus lençóis.
Entusiasmava-me ouvir das pessoas sobre reencontros com antigos colegas de
escola, gente que conheciam do passado e com a qual retomavam o convívio. Mas
tinha medo. Sempre mudei muito, fui muitas, até começar uma caminhada de
autoconhecimento mais sólida, mais formal. Bom, a bem da verdade continuo
mudando muito ainda, ou não aguentaria conviver comigo mesma. Entretanto, levei
muito susto com os reencontros, até aprender que nunca somos os mesmos no dia
seguinte e que, uma aparente pequena mudança, pode fazer diferença.
Saí do facebook certa de que não
voltaria na segunda vez. Estava confusa. As redes sociais são, sem dúvida,
escolas onde aprendemos muito sobre o exercício da democracia, a convivência
com as diferenças, em todos os sentidos. Bacana, não? Nem sempre. A
colega de faculdade que você reencontra faz a maior festa no início. Depois de
uma breve e empolgada conversa, você descobre que suas vidas tomaram rumos
bastante diferentes. “Bobagem”, a gente pensa inicialmente. “Vamos ter muito o
que trocar”.
– Não, eu deixei o jornalismo!
– Verdade?
– Sim, no fundo foi um equívoco.
Talvez uma experiência pela qual eu precisasse passar – digo , tentando apresentar
a minha alma de terapeuta.
No meio da conversa, uma palavra
começa a revelar que aquela pessoa com quem você está conversando não é a mesma
que você idealizou durante anos de ausência.
“Tudo bem” – digo a mim mesma, respirando, pensando na oportunidade de
conhecer outras realidades. Mas não é tão fácil assim, devo confessar, sem
esquecer, contudo, que as pessoas não se mostram tão facilmente. Rememoro as
teorias, lembro das máscaras, das sombras, do self...ah, o self! Impossível
pensar no self sem se cobrar
tolerância. Aos poucos redescobriria afinidades entre eu e aqueles com quem
estava me reencontrando depois de muitos anos. “Esse será um exercício profissional
maravilhoso!” , exclamei, tentando me animar.
É natural que agreguemos no nosso
rol de “amigos” pessoas que tenham interesses semelhantes aos nossos, lógico.
Ainda que meus interesses sejam tantos, precisavam estar na minha lista pessoas
da área terapêutica e poetas e/ou amantes da poesia. Não necessariamente nessa
ordem, que minha ordem de prioridades varia. Mas é certo que estariam lá. E,
além do mais, seria interessante também ter pessoas com outros interesses,
outras experiências. Ham? Como assim? A sua quase íntima colega de infância não
gostava de poesia e usava termos pejorativos para referir-se aos psicólogos e
terapeutas de uma forma geral? Ah, mas não era comigo que ela falava. Eu não
precisava interagir e esperaria um interesse em comum, haveria de ter; afinal, eu
tinha poucos meses na rede. A roupa de Ivete Sangalo e a voz horrorosa de
Cláudia Leite? Tudo bem: li, mas podia fingir que não. As pernas da menina do
BBB e as fotos sem maquiagem das atrizes famosas? Tá, tá, eu sou mesmo alienada
e não sei de qual sucesso da música baiana estão elas falando.
Não, mas não adianta fazer de
conta. Saí do face depois de constatar que não sabia ter tantos “amigos” numa
rede social, assumi que sempre tive uma natureza muito introvertida, no sentido
comum e usual da palavra, e que não devia mesmo haver nada de errado com o
face, mas comigo. “Face nunca mais. Juro, juro que sobrevivo sem tudo isso, que
posso tomar conhecimento das coisas por outras vias”. Lembrei com nostalgia dos
envelopes chegando pelos correios, do tempo em que não tinha celular e que não
que rastreada e nem encontrada tão facilmente. Quando vi, numa gravura, a
imagem de um pombo-correio e a alma saltitou de alegria, nem me lembrei do álibi
da poesia, que nos permite ir e vir do passado mais remoto ao futuro duvidável:
“Vou embora”! E fui. Pra sempre.
Voltei. Mais madura. Mais
experiente. Recusando convites sem me sentir mal-educada. Selecionando os
“amigos” cuja linguagem estivesse mais afinada com a minha. Mais consciente de
que ''a convivência nasce do diálogo que celebra nossas diferenças'' (frase que
compartilhei hoje no face, do Dalai Lama (talvez, porque a formação em
jornalismo serviu para eu me lembrar, às vezes, de conferir as fontes). Agregando
terapeutas e poetas, que, afinal, não eram tão diferentes assim. A paz voltara
a reinar dentro de mim, finalmente. Tudo estava bem, as diferenças continuariam
existindo, apesar das afinidades, as percepções variariam de pessoa para
pessoa, como era mesmo natural, e também não poderia descartar a possibilidade
de um ou outro conflito, algo que faz parte do aprendizado humano.
Tudo bem, então. Tudo bem???
Estava, enquanto as divergências estavam em meu entorno, enquanto um outro ou
alguns outros divergiam de mim. Relendo, um dia, algumas postagens, empaquei
numa opinião, numa reflexão com a qual discordei quase que radicalmente, não
fosse eu observar a tempo que era.. minha mesmo! Era o meu Eu lírico esbravejando
contra teorias que assimilei no percurso terapêutico, rosnando feito um cão
doido contra as verdades que eu havia fechado nos conhecimentos racionais que
aprisionavam minha alma e minha experiência de vida. E agora? O que faria? Sair
novamente? Melhor era dormir e esperar o dia seguinte. Gosto de analisar meus
sonhos. Certamente acordaria harmonizada entre os vários eus que pareciam fragmentar-me.
No dia seguinte, abri o facebook
calmamente e não acreditei:
– O que está acontecendo, Tânia Contreiras?
Sim, era o facebook com a sua
nova versão terapêutica.
Não, não corri dessa vez. Tenho
certeza de que hora dessas ele vai fazer um poema com quatro versos e nos
tornaremos, enfim, grandes amigos.
10 comentários:
Tania, linda o facebook é mesmo essa grande diversidade de tudo tem um pouco. Bobagens, artes, poesia - é preciso focar o olhar e selecionar o melhor de cada um :)
grande beijo
taninha,
eu saí do Facebook, mas vou voltar muito em breve.
estou, como dizemos em minas, "pegando embalo" pra subir aquele morro.
A gente tem que aprender a beber veneno e usá-lo como fortificante.
voltarei mais cético e menos ingênuo. tenho certeza de que, desta vez, eu possuirei o Face, mas ele não me possuirá.
ou algo parecido.
beijoca, maninha.
r.
Taninha, me achei entre essas linhas, tanto, como se fosse espelho. anda é bem difícil, pra mim, essa administração virtual, pq me alimento de olhos, mas acho que aos trancos e barrancos vou arrancando o que de melhor o FB pode oferecer. O grande lance é dominar a fera, exatamente, como O Roberto comentou. Na verdade, o Fb, eu penso que favorece ao blog, no que diz respeito ao humano, pois podemos estreitar nossas amizade poéticas, enfim, acho que podemos sentir os poetas mais humanos.
estou com saudade da sua presença no beco, do seu carinho, mas tb ando tão sem tempo com essa história de férias da moçadinha, ainda bem que estamos próximos do fim das férias.
um beijo enorme e meu carinho
Que beleza seu texto, Tania. (no facebook talvez não fosse lido. Então, neste sentido, os blogs são mais generosos) Expressando sua experiência, você externou o que muitos sentem. Ainda não sabemos ao certo o que ou onde as redes sociais nos levarão. Adorei ler você e, por tabela, aí tem muito de mim também.
Bj
O Face vai do luxo ao lixo em questão de segundos. Suspeito que se algum dia ele der uma de poeta, capaz de eu me passar por terapeuta...
Beijo, Violeta!
Tua reflexão sobre o FB está muito boa, Tânia, e entre os "prós e contras", ainda fico com os "contras". Sou tão cética :)
beijoss
ao face eu vou: não voo
beijo
facebook: confesso que nunca participei diretamente nessa rede maior do que o [nosso] próprio mundo. sempre tive receio de um encontro tão global, tão abrangente, que pode vir a aproximar as pessoas sem um propósito comum. mesmo os blogues que, pelas temáticas-matriz, tendem a aproximar mais genuinamente as pessoas criando linhas de afinidade comuns acabam por trazer amargos de boca... oh, se é verdade. ainda assim, e mesmo à distância da não experiência, consigo entender as inquietações aqui partilhadas - algumas das quais que vou vivenciando mesmo sem facebook.
beijo grande!
facebook: confesso que nunca participei diretamente nessa rede maior do que o [nosso] próprio mundo. sempre tive receio de um encontro tão global, tão abrangente, que pode vir a aproximar as pessoas sem um propósito comum. mesmo os blogues que, pelas temáticas-matriz, tendem a aproximar mais genuinamente as pessoas criando linhas de afinidade comuns acabam por trazer amargos de boca... oh, se é verdade. ainda assim, e mesmo à distância da não experiência, consigo entender as inquietações aqui partilhadas - algumas das quais que vou vivenciando mesmo sem facebook.
beijo grande!
o face...
é preciso saber filtrar
triagem feita, no final acaba por ser bom o que lá se descobre
beijinho
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