9 de dezembro de 2010

Primitiva


Quando o pé de flamboyant florir novamente
Ela estará rodopiando sobre o galho mais alto
Ou correndo com os pés descalços
As léguas de terras batidas.

Um dia ela será Rita,
A moça que vende flor;
Noutro, será Nonô,
Dona do bordel da esquina.
Por vezes será Marina
Glória
Bete
Helena
Raquel
E revelará sob véus
Suas faces de todas as eras.

Quando a noite cair sobre a terra
Seu corpo há de aparecer nu
Peitos e rabo salientes
Misto de bicho e de gente
Pássaro que esqueceu o voo.

Um dia ela será única
Um dia ela terá cor
Um dia se despirá da terra
Um dia apanhará uma flor
E nos dirá decidida:
Adeus, adeus, que já me vou!

19 comentários:

Emilene Lopes disse...

Bela poesia Tania...por muitos caminhos ela me conduz...
Bjs

Mila

Gustavo disse...

Sensacional!! Vc andou sumida e retorna com uma poesia arrebatadora como esta. Excelente mesmo, Tania.

Aplausos empolgados!

Ives disse...

temos ttas mudanças no espirito né, para cada flor um sorriso tb, abraços

Unknown disse...

"Quando o pé de flamboyant florir novamente"

essa imagem é explosiva como o rubro da árvore,

e "o pássaro que esqueceu o voo" há de sempre cantar


beijo

Zélia Guardiano disse...

Lindo, lindo, lindo, Tania Regina!
Estava com muita saudade!
Ganhei o dia, minha querida.
Enorme abraço

Bípede Falante disse...

que delícia de criatura essa mulher :)

Marcantonio disse...

Primitiva é palavra que me lembra pulsões profundas, forças da natureza,algo incoercível que alimenta mitos e essências poéticas.

Tânia, sabe que eu jamais havia visto uma imagem dessas? De impressionante originalidade.

Muito bom!

Abraços.

Primeira Pessoa disse...

vou procurar nos meus arquivos uma canção cubana, de silvio rodriguez.
unicórnio.

conhece?

belo poema, by the way.

beijao do
roberto.

Machado de Carlos disse...

No caule do flamboyant ficou gravado um nome único.
A tatuagem ficou gravada na árvore já com a cor transformada pelo tempo.
Mas o flamboyant voltará a florir novamente e suas pétalas cairão sobre a terra; - ficará toda iluminada por um vermelho encantador.

Belíssimo o seu poema!

Beijos!...

Cris de Souza disse...

esse roxo-violeta é puro néon...

meus aplausos, um espetáculo!

beijo, tânia.

poesiasmartinspescador disse...

Gostei desse misto de bicho e de gente, cujo estilo foi fiel as origens da imagem, que de tão distante traz para tão próximo a sobrevoar um flamboyant.

dade amorim disse...

Grande poema, Tania! Alegoria de todas as mulheres, além de profundamente original.

Beijo pra você.

Jorge Pimenta disse...

leio e releio e pergunto-me se não haverá um quê deste "ela" em cada criatura do génesis? o modo como surge, como se faz flor, mulher, recato e sensualidade, até que, como a bátega que não espera a nuvem cinzenta para se desfazer estrepitosamente sobre os nossos pés, desaparece na nuvem do aceno. quem és, ela? quem...?
um beijinho, tânia querida!

Silenciosamente ouvindo... disse...

Tãnia amiga, desejo que esteja
tudo bem consigo.
Obrigada pela sua visita e pelas
suas palavras.
Desejo umas Boas Festas para si e
para todos os que a acompanham.
A m/amizade e um beijinho.Irene

Unknown disse...

E como nomeia todos os seres femininos relatados no poema, será feita a justa objetividade que o título sugere. Mesmo Primitiva é totalmente atual. E o flamboyant voltará a florir novamente em outra primavera.
Abraço

Non je ne regrette rien: Ediney Santana disse...

gostei de como foi descrito as personagens do cotidiano que a poeta buscou para si, como também o desejo de não viver só em si

Andrea de Godoy Neto disse...

Tânia, que poema forte, que criatura original, mágica, vital!

Lindo poema, mesmo! Eu é que estava com saudades imensas dos teus versos!

beijo, querida

José Sousa disse...

Adorei seu post! Gosto de ler o que escrevem, pois só assim aumenta minnha sabedoria.
Tmbém gostei de seu blog. Parbéns.

Um abração.
Um Feliz Natal.

ANALUKAMINSKI PINTURAS disse...

Bela descrição poética do feminino, móvel, mascarado, misterioso e mutante! Beijos pintados, alados e lilases.