7 de abril de 2010

Como é por dentro outra pessoa?







Tem gente apostando que abandonarei esse blog, como já fiz antes com outros. A pior coisa do mundo é lidar com quem nos conhece e fica esperando a hora da “reincidência”, que – tudo bem – muitas vezes acontece mesmo. Mas eu explico, também, que não sou essencialmente uma “desistente”, tampouco inconstante (já estou na fase de reivindicar meus próprios rótulos e substituir palavras) – eu sou mesmo é “versátil”, ora, ora...

Mas tenho que confessar que acordei e fiquei pensando: ah, tenho que escrever algo no blog e nem imagino sobre o que falarei. Lembrei de um texto engraçado que li outro dia, onde o blogueiro levantava algumas possíveis razões para se escrever um blog e rejeitava, no seu caso, a três possibilidades que lhe foram sugeridas: fama, vaidade e carência afetiva. Sim – mas por que é mesmo que alguém se torna blogueiro?

Respostas prontas, padronizadas, já não me servem para nada. Procuro encontrar as minhas próprias razões, porque ninguém sabe melhor de nós (não será?) do que nós mesmos. Entender as nossas próprias razões é um caminho interessante para a descoberta do outro. Então, conversa nenhuma que pensar e falar sobre si é puro narcisismo. Se me entendo, fica mais fácil entender o outro. Se me descubro, posso estar, ao mesmo tempo, levantando um véu que encobre outros mistérios.

Eis minha resposta provisória (sim, além de “versátil”, sou “provisória”, nada de “desistente”!) para estar eu aqui escrevendo um blog:

É interessante estar sozinho, na sua intimidade, e ao mesmo tempo poder dividir essa intimidade com o outro, em algum momento que não é exatamente este em que me olho sozinha no espelho...

É estimulante poder acompanhar outras vidas, outros anseios, através daqueles a quem seguimos (embora me soe sempre estranho aqui o termo “seguidor”, parece coisa de seita, nossa, tô fora) e que também nos seguem...

Compartilhar, por outro lado, vai se tornando cada vez mais difícil neste meu mundo vasto de meu deus, onde os encontros vão ficando cada vez mais raros. O blog é um espaço, portanto, onde isto se torna possível. Além do que o blogueiro tende, naturalmente, a aguçar sua escuta, sua percepção, ouvindo outros, viajando em metáforas que não são suas, mas são ricas e reveladoras, encontrando pontos comuns entre coisas aparentemente diferentes.

Sim, ok, alguém pode agora sugerir que estou aqui improvisando, por não saber exatamente o que escrever. Estou, pronto – mas a improvisação não tem lá o seu mérito, a sua riqueza, não é ela, também, uma qualidade, tantas vezes reivindicada por aqueles que não querem ficar limitados à técnica? Enfim, eu estou aqui para encontrar, sempre, argumentos que justifiquem este “ser eu”, tal como sou. Ponto.

Mas agora vem um raciocínio mais poético (amo a Arte, que liberta, amplia as fronteiras e nos diz sempre “você pode tudo!”...):

O blog é um espaço que nos permite olhar por dentro outras pessoas, e por dentro é a parte que mais me encanta de todos nós. E pra não dizer que joguei conversa fora, sem “mandar” poesia, música ou qualquer coisa que nos remeta a mais longe, está aqui Pessoa, fazendo essa mesma pergunta que faço, que talvez façamos todos os blogueiros, quando abrimos espaço à compreensão do universo alheio, tão parecido com o nosso, tão diferente do nosso...



Como é por dentro outra pessoa


Como é por dentro outra pessoa


Quem é que o saberá sonhar?


A alma de outrem é outro universo


Como que não há comunicação possível,


Com que não há verdadeiro entendimento.


Nada sabemos da alma


Senão da nossa;


As dos outros são olhares,


São gestos, são palavras,


Com a suposição de qualquer semelhança


No fundo.

(Fernando Pessoa)



Mas, pra falar a verdade, uma imagem de um diamante me arrebatou logo pela manhã e desejei usá-lo como tema de escrita. Fica para um próximo post...

3 comentários:

roxo-violeta.bogspot.com disse...

É verdade, a vida acontece a despeito de nós e do pensamos dela.
Grata pela presença...

Rita Contreiras disse...

Passamos uma vida tentando controlar tudo para garantirmos a segurança do discurso e do curso. Muito esforço para definições e conceitos culminam num cansaço que só a soltura pode curar. No final das contas a vida é um contínuo acontecer à margem das nossas medíocres definições para nos sentirmos seguros, é um improviso rico e incontrolável, graças a Deus!

7 de abril de 2010 18:31

Sél disse...

olá Tânia
Não pensei q no meu caminho de blogueira aparecesse um blog tão roxo-lilás e seus tons rsrs
Eu sou absurdamente e loucamente apaixonada por roxo-lilás e seus tons hahaha
Estou em casa! \o/

Além disso, seu blog tem textos excelentes e escolhi esse para comentar pq me identifiquei demais com o q vc escreveu

Que muitos outros textos venham...sua determinação continue e no seu caminho a luz violeta nunca se apague...^^
Seguirei vc pq agora não quero perder mais de vista essa violeta..

Ah, e como poderá ver, tenho um blog que o nome é >sel-ametistha-lilás-violetha...< rsrs
visite-me
abraços querida, boa semana - fiquei feliz por demais em conhecer seu espaço ^^