13 de julho de 2017

Uma rosa no meio do caminho







Tão tristes os olhos tristes da mulher, do outro lado da calçada, em meio a uma pequena multidão. Quase pude ver a razão daquele inverno tão antigo e cor-de-mel. Que faço com as tristezas de tronco largo, raízes espalhadas pela terra que acompanha os passos, e os pássaros que já não pousam nos galhos dormentes? Tão tristes os olhos tristes da mulher, que pode se chamar Carmelita, talvez Maria Aparecida, sombreando o próprio corpo, lá do outro lado da calçada. Nada poderei perguntar, nada saber, esbarro-me com a banca de outra mulher, seu balde de águas a manter frescas as flores mortas, que serão vendidas como amor, a quem ainda acreditar na rima amor e flor. Dê-me uma aí, moça, aquela rosa cor-de-rosa, sim, eu tenho três reais, dê-me rapidamente. E corro entre os carros espremidos na avenida, alcanço Carmelita ou Maria Aparecida, estendo a rosa, a tristeza se espanta, a mão alcança minha excentricidade, sorri para a rosa e vou embora antes que. Do outro lado ainda olho, ela encosta o nariz na rosa, como se procurasse o cheiro de antes de ter os olhos tristes. Nada mudaria na vida de Carmelita ou Maria Aparecida. Foi somente uma rosa. Foi tão-somente uma rosa cor-de-rosa que em nada mudaria sua vida, sua história, as causas daquela tristeza encrustrada. Caminhamos paralelamente em calçadas opostas. Até onde vi, um sorriso íntimo, a procura de um aroma, e a tristeza nos olhos enfeitadas por uma flor. Era tudo inútil, sim, mas havia uma rosa no meio do caminho. Levantou o olhar à procura daquela que lhe entregou a rosa. Na multidão, já nem sabia. Na multidão, já nem poderia. Não havia olhado a fisionomia. Somente caminhou cheirando a rosa, eu dobrei a esquina. O dia era o mesmo, a tristeza com jeito de jardim. Talvez voltasse para a casa de sempre e encontrasse o mesmo vazio. Quem sabe não esquecesse, contudo, daquele acontecimento: no meio do caminho havia uma rosa!

(TC)

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