13 de julho de 2017

Sobre o abraço de olhos sem fronteiras





Imagem: Annysa Ng





Possivelmente algumas pessoas de fora da área psi já tenham ouvido sobre o "silêncio no setting ánalítico". Os que não conhecem e têm interesse podem encontrar material em abundância na internete. Aqui, falarei de um silêncio especial, olhado e descrito com embriaguez poética. Embriaguez poética em mim significa o mesmo que ter nascido com Netuno sobre o Sol e se perguntar se os sonhos eram produto de uma catarata cor-de-rosa a ser removida. Se a película era um fardo ou uma salvação.

Falo, assim, de um silêncio referenciado tão-somente pela Alma. Aquela que dá vida ao meu corpo. O alicerce teórico do meu Ofício. Que me ensinou sobre silêncios...

Um paciente me falou que os olhos são os dois chakras dos quais não duvida da existência. Alguém já o teria dito antes? Não que eu saiba. A referência indireta ao meu olhar veio umas quatro vezes, em encontros alternados. São "delírios" epifânicos a maioria dos delírios? Não sei. Mas ele senta de lado algumas vezes, e demorei um pouco para compreender que evitava me olhar, e assim conversava muito, desnudando-se pouco a pouco. Não, não é sempre, não são todos os dias. Há momentos em que procura no meu olhar - águas em que passou a confiar - uma mensagem de garrafa, as respostas para suas perguntas impronunciáveis. E aí começa a dança. Todos os seres que habitam o astro dos nossos olhos estendem-se uns para os outros. Ainda não há como tratar as feridas ocultas pelo medo. E não importa a dor, quando olhares desmancham-se em águas que se fundem. Quem grita no fundo do abismo de nossos olhos escuta "eu te amo incondicionalmente!' ... e o silêncio traduz mergulhos ancestrais que aninha as Almas imersas.

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