Nasci com Netuno
Sobre o meu sol.
Nada do que
Me foi dito
Estava escrito
No meu olhar.
Quando criança
Foi preciso girar
E desvirtuar os cenários.
Tenho cicatrizes
Na testa, na boca
E nos joelhos
Por não sustentar
O corpo na hora dos rodopios.
Havia uma canção
Que só eu e as árvores
Ouvíamos: dançávamos
Ao som dela.
A intimidade com as lesmas
As mariposas em torno da luz
As estrelas que resistiam
À luz do dia, tantas e tantas,
Que só eu via, só eu via...
Um dia disseram
Que era preciso curar-me.
Era preciso que o mundo
Fosse visto tal qual era.
Lentes oftalmológicas
Não corrigiram a embriaguez
Dos meus olhos.
Era preciso mais:
Terapeutas
Psiquiatras
Conversas com
Astronautas
E a desmistificação da Lua.
Quisera saber
Pra que viera.
Hoje me irmanei
Com a poesia
E com a alma
Das gentes que sonham.
Não há cura
Para os que nascem
Com os olhos ébrios.
Não é preciso cura
Para quem traz no destino
Linhas ziguezagueantes
Passos cambaleantes
De um ser humano coxo.
Exaltemos a dança
Dos que vieram com
Uma perna mais curta.
Rasguemos as vestes
Padronizadas que
Servem como camisa-de-força
Para a loucura divina.
Acreditemos na dor
Dos que não suportam
O peso das asas inertes.
Ensinemos o voo.
Acolhamos a dimensão
Invisível para os cegos
De alma.
Rodopiemos.
13 comentários:
Até que procurei outra palavra, mas todas que achei não traduziram a beleza deste poema. Fico no lugar comum: belíssimo, minha amiga.
beijos,
Bela poesia.
Boa semana.
ah
como ler você é bom
exaltemos a dança
abs
Mana, assim vc mata a Irinha de rodopios. Da cá sua mão!
Belo de belo demais
bjão, Taninha
é como se eu conhecesse, desde sempre, o poema.
certos poemas são como alguns lugares, nunca estivemos lá, de fato, mas é como e jamais tivéssemos saído... de lá.
celebro-te.
beijão,
r.
Pela chamada nos links de blogs amigos é que curiosei-me, não me decepcionei nem um pouco, pois, alimentei mais uma vez a minha alma.
Bravo!
Abraço
Coreografia pra ninguém botar defeito...
Beijão, Violeta!
um carrossel de arrepios escritos, devastação verbal: e a história a fazer-se com o que sobra das palavras.
uma imensa ode a ti e a todos os que (te) sentem.
beijos, taninha!
pra coisas assim eu me repito: de torar
beijo
Tanita,
um dos mais belos poemas que já li...
levo comigo a imagem:
«Acreditemos na dor
Dos que não suportam
O peso das asas inertes.»
traduz uma emoção difícil de descrever.
perfeito, sublime!
um beijo.
Minha querida
Um poema daqueles que não há palavras para comentar, porque o belo é sempre difícil encontrar uma definição. Adorei apenas.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
Lembrei das cantigas de roda,
rodopios
de todas as coreografias.
Belas lembranças embutidas no teu poema!
Beijo, Tânia!
Lindo, minha linda. Como se expressa tão lindamente...
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