... sei: você vai me dizer que comecei pelo meio, que eu tente organizar os pensamentos, e faça uma introdução sintética do assunto, que hierarquize as ideias, que esqueça a geleia e o pão enquanto falo... Enquanto isso, minha voz sussurrada aqui pergunta: de onde vêm as lágrimas? Como pode um mar introduzir-se por dois minúsculos orifícios e despejar-se tanto e todo... e se lhe parece tolo esse meu anseio, vá, abre algum livro de anatomia, fale do diâmetro, da luz invertida, dos impulsos nervosos e da imagem conduzida ao cérebro...Se lhe pareço tonta, fale do fluido aquoso salino, esqueça que já foi menino, academize os sentimentos, faça tese dos meus pensamentos, enquanto, atônita, eu me pergunto: de onde vêm as lágrimas?
É tarde, eu sei...e é preciso olhar o relógio, é imprescindível compreender que aprisionaram o tempo, que o amanhã é o ponto seguinte depois da meia-noite, e que essa chuva de açoite nada tem a ver com os sentimentos meus.
Vertem dos céus as águas que em mim estanco, dispenso o seu discurso franco, apresse o passo pra não perder o voo. Quem sabe conversamos na volta, e se não o levo até a porta é porque agora preciso compreender: de onde vêm as lágrimas?
(Tânia Contreiras)
É tarde, eu sei...e é preciso olhar o relógio, é imprescindível compreender que aprisionaram o tempo, que o amanhã é o ponto seguinte depois da meia-noite, e que essa chuva de açoite nada tem a ver com os sentimentos meus.
Vertem dos céus as águas que em mim estanco, dispenso o seu discurso franco, apresse o passo pra não perder o voo. Quem sabe conversamos na volta, e se não o levo até a porta é porque agora preciso compreender: de onde vêm as lágrimas?
(Tânia Contreiras)
21 comentários:
quem sabe, tânia...
quem sabe...
os fins nem sempre justificam os meios...
nem sempre.
beijo procê.
Vem do coração, paz.
Um abraço Lisette.
Bonito texto, Tânia. Interessante como você menciona ironicamente a explicação fisiológica para realçar o sentido simbólico da pergunta. De fato, vivemos tempos de academicismo afetivo, da secura das explicações literais. Tão importante quanto saber de onde surgem as lágrimas, seria descobrir por que elas param de correr. Elas secam tal como o ritmo e a rima se introduzem no seu texto.
Abraço.
Lindo Tania! O retorno ao olhar infantil das coisas, desfazendo-se da ciência fria! Uma coisa que remete ao interior, a alma e muito bem construida!!
Adorei!!
Beijos!
Maequinho, você tem uma percepção sutil, não olha apenas, Lê. A menção às rimas que se introduzem no teto e o ritmo presente são um fato quase íntimo meu. Elas se atiram na prosa às vezes e eu não posso fazer nada. Há palavras que precisam dizer-se, elas se precipitam ao branco da tela sozinhas, sem serem ao menos chamadas.
Bom, não compreendo muito a forma como escrevo. É uma escrita cheia de brechas preenchíveis, eu acho, mas não consigo suprir essa carência. Um-terço se diz.
Grata pela sua queridíssima presença na Casada Imaginação.
Pablo, é exatamente isso: é um anseio infantil que não precisa ser esfacelado pelas expectativas...adultas, intelectuais, competentes. Aliás, gostaria que os poetas queridos me dissessem, cada um ao seu modo: de onde vêm as lágrimas?
Beijo menino poeta, chegaram juntos você e o Marcantônio, e eu que amo a escrita de vocês!
"Vertem dos céus as águas que em mim estanco", isso já é um poema inteiro, lindo. Abraço
Abraços, Assis, querido. Hoje ainda não li você, mas algo novo haverá de surgir ainda, que brotam versos de suas veias sempre.
abraços,
Tania
De Onde?
Do vale
Da vela (esse fogo) que pulsa, arde e leva a Vida para além do “bojador”... Isto é, para além da dor: esse vale (mar) de lágrimas por onde navegamos e navega a nau humana...
Como bem diz o poeta Djavan:
Do “Mar” que vazou de uma paixão, atravessou os olhos e encheu a sua mão, que, ao cair no chão, em doces gotas de Amor, evaporou na noite e nublou o céu de estrelas...
Pois é querida, djavaneando um pouco mais, diria que:
Cada vez mais que “você deságua em mim, eu oceano e esqueço que amar é quase uma dor”...
“Mais, quero mais, nem que todos os barcos recolham ao cais, e os faróis da costeira me lancem sinais:
Arranca, vida
Estufa, vela
Me leva, leva longe, leva mais”...
Bjo.
Sam
Agora, sim, posso dizer que me sinto devorado...
Que bom devorar e ser devorado por um poema, não?
bjo.
Sam
oh meu anjo lindo
querida
as lágrimas nascem da alma
de brotam dos teus lindos olhos
e morrem no seu belo rosto
esse belo sentimento outrora passado
vem mesmo das lembranças da alma
esta lindo e bem argumentado Beijing votos de um bom fim de semana
Sam, querido, você fala e eu versifico cada palavra. Aguradando ansiosa sua casa da imaginação. Obrigada por vir.
Anita, beijos, querida, seja bem-vinda e obrigada pelo carinho.
Abraços,
Tânia
O comentário das lágrimas=MAR FOI MEU, tÂNIA. nÃO REPAREI QUE ESTOU SEM NOME, POIS NÃO ENTREI 1º NO MEU BLOG.
Ah, ok, Gerana, mas já estás aqui! rs
Beijo grande,
TAnia
Muito belo isso!
Ouvi aqui uma triste e bem baixinha sinfonia, daquelas que são bem melancólicas mais tbm caóticas, mais tudo bem baixinho, pq, me parece, é sempre assim que esses sentimentos nos riscam a pele: acho que a sinfonia tocou em consonância com a musica que estava a ouvir agorinha.
Brigado pelas visitas e os comentários.
Abraços.
De onde vêm as lágrimas?
Nem sempre interessa de onde vêm, mas sim quem as acolhe.
Da dor...Da alegria... Dos assombros belos ou doídos...
Seu Blog é lindo e seu versejar instigante. Parabéns!.Estou te seguindo.
Sinto-me lendo uma nova Clarice.
Meninos, vocês vêm e eu gosto e agradeço.
Rafael, de repente havia algo "tocando baixinho" quando vieram as palavras e lhes deu cor.
Emília, " quem acolhe as lágrimas" daria um novo post...Às vezes elas próprias se acolhem, gotas abrinfgando gotas...rsr
Maria Emília, vêm da dor, dos assombros, às vezes vêm também sem dizer de onde chegaram e vão sem dizer para onde partem...
Bípede....nossa, uma nova Clarice...que é isso, quem me dera?
Beijos para vocês,
Tânia
"Vertem dos céus as águas que em mim estanco, dispenso o seu discurso franco, apresse o passo pra não perder o voo"
Fiquei emocionado com esses versos, me lembraram tantas coisas e tantas necessidades
Ediney, muito bem-vinda sua visita. Acompanho sempre e atenciosamente (sua lucidez me acorda, sobretudo) o Non je ne...
Obrigada pela visita.
Abraços,
Tânia
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