1 de maio de 2017

Ponte




Arte: Rob Gonsalves




Tão só
a ponte
- nem a
saída e nem
a chegada.
Entre margens
opostas, estendo-me
insone
porque os homens
não param de passar
- uns vão e voltam
outros escolhem-me
como destino, no desatino
atiram-se e somem como
um ponto escuro nas águas.
Há homens que
não retrocedem
deixam a fragância
dos seus passos sobre
o meu corpo de madeira
- e não é meu o cheiro que
embriaga outros passos.
Na madrugada
- quando os homens
decidem se vão ou ficam -
tudo é silêncio; converso
com um pé de sapato que
ficou por anos em mim esquecido
e ele me explica por que poucos
deixam o calçado na hora de voar.
Arquejada
projetada para
idas e vindas
não posso falar
sobre os meus
próprios passos
- Tão só
a ponte
- nem a
saída e nem
a chegada.

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