1 de maio de 2017

Pacto de sangue






Desde
o início
foi assim
- o que não
morre amanhece
em mim;
um novo livro
um corte de cabelo
roupas mais coloridas
uma outra ferida aberta
dentro da ferida antiga;
um pouco mais magra
um pouco mais velha
um neologismo, o ranço
com o silogismo, uma perna
manca que não tinha ontem.
Desde
o início
foi assim
- algo não
morre e permanece
em mim;
para a timidez
uma teatral eloquência
para o pragmatismo uma
adeus à demência de um dia
não mais água quente, água
fria para os dias insuportavelmente
frios.
Tudo muda
a cada dia
a cada hora
a cada vertigem
a cada lei insana
a cada sacudir da
poeira, que nunca é
a mesma poeira de antes.
Mas desde
o início
foi assim
- algo não
morre e permanece
em mim.
Não direi
o nome da
coisa que se
espalhou tanto
essa metástase
que tento esconder
com a palavra dura
que tento explodir com
frases de pavio aceso
que vou camuflando com
imagens diversas.
A mim interessa saber que
o primeiro assombro persiste
intacto, como se ontem e hoje
tivessem feito um pacto silencioso
um pacto secreto e doloroso de
permanecer fiel a.

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