11 de agosto de 2014

Fragrância alada


Do 107º Desafio Poético com Imagens - Arte: M. Iordache



Exalo pássaros
quando me extingo.

Agonizantes não encontram leitos
nas alas dos que simulam  vida.

Agonizantes não encontram portas
entre as névoas que encobrem o Além.

São as fronteiras de pedras assimétricas
que acolhem os mortos-vivos
: seres que entremeiam o sono e a vigília.

Antes de ir é preciso libertar os pássaros.
Deitar sobre a pedra fria que se ergue no nada.
Esvaziar-se do espanto da vida e da morte.

Abrando-me.
Amorteço-me.
Cubro o sexo com
a sobra da cortina
do último ato.

Há uma fragrância alada
que me preserva da putrefação.
Ainda ruflam anseios e vertigens
em busca de poros dilatados.

Enquanto me extingo
 exalo pássaros.

Findar-se é
uma revoada
dissolvendo-se
sobre o azul da tela...



2 comentários:

Domingos Barroso disse...

tenho pra mim
que os suspiros
que partem costelas
não nos abandonam nem
mesmo quando findamos "Exalo pássaros quando me extingo."

belo, belo, belo poema...
beijo, minha querida Tania...

Graça Pires disse...

"Antes de ir é preciso libertar os pássaros.
Deitar sobre a pedra fria que se ergue no nada.
Esvaziar-se do espanto da vida e da morte."
Muito belo!
Beijo.