Desafio Poético com Imagem. Arte: sem referência de autor
Seriam tuas
as flores,
mulher nua
com rabo de peixe.
À porta de
tua morada
curei do vício
das lendas.
Não existias.
Não sofrias no
fundo das águas
com saudades minhas.
Não eras rainha aquática,
e o canto fascinante
no qual me envolveste
era tão-somente o silêncio.
Arribaram-se as
sacerdotisas aquáticas.
Sedutoras sacerdotisas aquáticas.
No infinito das águas eu miro a ilusão.
Não houve moça das águas senão
nos intermináveis devaneios meus.
No infinito das águas eu vejo reflexos.
Nenhuma das ilusões que tive
vieram de longe, de fora:
minhas miragens
sou eu distorcido
no devaneio das águas.
No fundo de mim
mora uma sereia
a quem preciso amar.
No fundo de mim
mora uma mulher
que não sabe caminhar
sobre a terra.
Que mergulha
seu ventre na frieza das águas
e que faz amor diferente.
Mas a ilusão é pano
caindo no último ato
da peça que a gente assistiu.
Eu acordei de um longo sono
e descobri que não há ninguém
por detrás da porta por onde olho.
Curei-me da ilusão de
desejar uma mulher aquática.
Mas não consigo entender
por que os homens não
chegam até a porta
para olhar o mar.
Sinto-me feliz
por ter uma porta
por onde olhar o mar.
Agradeço
por se encontrar aberta
alguma porta.
Adeus, sereia.
Agora tenho porta
aberta para o mar e olho
as ondas quebrarem
sua fúria nas pedras.
11 comentários:
Que sortilégio este poema, Tania. Esta simbiose entre o sujeito e o objeto do seu discurso. Esse fascínio que a "sereia" exerce sobre o homem. Belíssimo! Não poderia ter algo melhor para este sábado, ainda sem degustação de um bom vinho (rs).
beijos, Tania!
que poema
de torar
beijo
Tenho vivido dias apertados, onde o tempo é pouco pra coração grande, e isso me afasta com tanta dor que só eu sei. Quero alcançar a poesia, esse ar que me cura os pulmões, mas os dias são de lutas intermináveis. Estou tentando deixar meus olhos aos que amo, como vc, numa tentativa de iluminá-los. A saudade é cortante.
Esses seus delírios são essenciais!
bj,bj,bj
Num passo ou passe de mágica...
Beijo, Violeta!
Um mergulho nas variações delirantes do próprio mergulho; a sereia escutando e entregando-se ao
seu canto para então ouví-lo fora das águas...! Muito interessante, esse diálogo, Tânia!!!
um beijo
Este poema é de uma beleza incomparável!
Beijo beijo
ô, que inspiraçao, guria!!!
Canto, encanto, viagem, miragem, no espelho das águas.
Belo, Tania.
bj
viagem ao mundo líquido onde todas as portas são cavalos a galope em pradarias femininas, lá onde me encontro, lá onde me perco, aí onde tudo recordo e quase nada esqueço.
admirável, taninha. um beijo grande!
Tânia, muito bom esse teu poema. Gostei como você foi criativa em explorar a sinonímia de sereia.
Tânia!
Pisciana da gema
e com os pés nas nuvens,
"No fundo de mim
mora uma mulher
que não sabe caminhar
sobre a terra."
Adorei teu poema!
Beijão!
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